Bicicletas em Lisboa. Restrições na aplicação Gira vão bloquear alternativa feita por jovem utilizador

por Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Fotos: Gonçalo Costa Martins - Antena 1

A mGira foi uma versão criada por Afonso Hermenegildo para fintar os problemas que a aplicação Gira tem registado, mas tem os dias contados. A EMEL, responsável pela aplicação original, vai "fechar" os servidores.

A Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) contratou uma entidade para fazer um “upgrade” na aplicação. É o que se pode ler no contrato disponível no Portal Base, num investimento a rondar 19 mil euros.

No entanto, através de outros documentos públicos consultados pela Antena 1, percebe-se que a empresa contratada vai “analisar e corrigir eventuais falhas de segurança” da Gira.

“Um utilizador desenvolveu a sua própria versão não oficial que está a ser bem recebida pela comunidade, mas está a explorar um conjunto não autorizado de recursos da EMEL”,
lê-se numa apresentação da companhia tecnológica Devoteam. Sem referir nomes, a aplicação de Afonso, disponível desde dezembro, reúne nesta altura, segundo o próprio, cerca de 600 utilizadores diários.

O contrato dá dois meses para as melhorias entrarem em vigor. Tendo o documento sido assinado no dia 1 de abril, a mGira deverá acabar até ao final deste mês de maio.

Trabalho feito “é uma vitória”
Problemas como sucessivos pedidos para iniciar sessão, bicicletas disponíveis que não aparecem na aplicação ou contas e adesão a passes por concluir cansaram Afonso Hermenegildo, que achou “engraçado tentar fazer uma aplicação melhor que a existente e que tivesse coisas novas”, disse em dezembro na Antena 1.

Estudante de Sistemas e Tecnologias de Informação, na Universidade Nova de Lisboa, construiu um “caminho” até aos servidores da Gira, com uma aplicação que permite usar as bicicletas da rede de estações através dos pontos acumulados e não dos passes.

“Aquilo passa tudo pela aplicação, não é guardado em lado nenhum. A base de dados é toda da Gira. Aquilo simplesmente manda o pedido de autenticação ao sistema deles”, explicava Afonso, já que é preciso colocar nome de utilizador e palavra-passe.


A EMEL teria consentido a utilização dos dados. Questionada na altura pela Antena 1 sobre se ia alterar a proteção dos sistemas, não respondeu, mas sublinhou duas coisas: que reuniram com Afonso e que a aplicação dele “resultou da atual necessidade de evolução tecnológica da EMEL”.

Passados cinco meses, o caso muda de figura e a EMEL vai apostar então numa “solução de curto prazo para superar as limitações e proteger os serviços usados indevidamente”.

Afonso espera agora para ver o que aí vem e depois decide se vai construir uma nova aplicação, mas diz ter um espírito de “missão completa”.

“Quando forem aplicadas as melhorias, eu diria que é uma vitória”, não só de Afonso, como da “comunidade” de ciclistas.

Em dezembro, foi dada a garantia de que estava a ser desenvolvida uma nova aplicação para a rede Gira. Contactada esta semana pela Antena 1, a EMEL volta a reconhecer "constrangimentos pontuais". Diz que o contrato pretende "estabilizar e solucionar os condicionamentos identificados" na aplicação, sem referir-se a esta e outras alternativas desenvolvidas pelos utilizadores que vão ser bloqueadas com as atualizações nos sistemas.

No ano de 2023, foi registado o recorde de quase 2 milhões e 700 mil viagens na rede Gira, o que dá uma média superior a 7300 viagens por dia, refere o jornal Público
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